Que me perdoem os mandatários executivos, a maioria deles na minha opinião, mas já faz um bom tempo que não vencem eleições. Tanto o tempo dito, e tão expressiva a maioria referida, que ao menos eu, agora, não consigo lembrar uma exceção. A percepção que tenho, e não é de hoje, é que os pleitos eleitorais têm sido perdidos pelos preteridos, rechaçados, rejeitados no jargão contemporâneo, ao passo que as escolhas têm sido feitas não em homenagem ao ideal de candidato desejado, mas daquele capaz de evitar, de todos os males, o pior.
A utilidade reputada a certo modo de votar, por exemplo, estipulada em determinada fase da campanha, intimamente fundamentada em pesquisas de toda a ordem, de confiáveis a desconfiáveis, por si, para mim, já é decapitação dos sonhos de eleitor. A gritaria da polaridade, da intolerância auditiva antes mesmo da analítica, então impossibilitada pelo absolutismo da primeira, pintou com cores mais drásticas o quadro dos medos que norteiam as eleições. O combustível que leva o cidadão e a cidadã à zona eleitoral é o medo do candidato do outro, não a esperança no candidato de sua predileção.
As escolhas, quando debatidas, são alicerçadas no "pelo menos" em lugar das possibilidades ilimitadas de conquistas sociais que a política bem empregada poderia realizar. Quantos governadores do Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, nas últimas duas décadas, foram escolhidos por efetiva vontade do povo gaúcho em tê-lo como seu governante, e não para evitar suposta maléfica assunção do odiado outro pretendente? É certo que no mais das vezes a repulsa foi justa e, portanto, a escolha justificável. Mas a detecção de que o que ativa e fundamenta as sagradas manifestações de vontades no ato que sublima e materializa a democracia, igualando a todos como em raríssimos momentos da vida, quem sabe o único, advenha do negativo sentimento de ódio é mais que preocupante, é alarmante.
Não foi para isso que a eleição direta foi concebida, e não é rumando nesta trajetória, com este sentido, que alcançará sua senda correta. Pior do que obstar um dia viver os sonhos sonhados, é ceifar até mesmo a possibilidade de sonhar, o que vem acontecendo cada vez mais, a cada pleito eleitoral que deveria ser festejado, nunca temido. Os tipos de vitórias que tenho testemunhado só têm sido celebradas por correligionários, ao passo que as derrotas ficadas se democratizam nas ruas, nas vidas de todos. Tempo bom aquele em que quem vencia era o melhor.